APIS de visão computacional: investigando mediações algorítmicas a partir de estudos de bancos de imagens

O artigo publicado recentemente na Revista Logos é parte dos resultados do projeto Interrogating Vision APIs realizado no Smart Data Sprint 2019 e elaborado por Tarcízio Silva, André Mintz, Taís Oliveira, Helen Takamitsu, Elena Pilipets, Hamdan Azhar e Janna J. Omena.

O artigo apresenta resultados de estudo sobre Interfaces de Programação de Aplicações (API, na sigla em inglês) de visão computacional e sua interpretação de representações em bancos de imagens. A visão computacional é um campo das ciências da computação dedicado a desenvolver algoritmos e heurísticas para interpretar dados visuais, mas são ainda incipientes os métodos para sua aplicação ou investigação críticas.

O estudo investigou três APIs de visão computacional por meio de sua reapropriação na análise de 16.000 imagens relacionadas a brasileiros, nigerianos, austríacos e portugueses em dois dos maiores bancos de imagens do ocidente. Identificamos que: a) cada API apresenta diferentes modos de etiquetamento das imagens; b) bancos de imagens representam visualidades nacionais com temas recorrentes, mostrando-se úteis para descrever figurações típicas emergentes; c) APIs de visão computacional apresentam diferentes graus de sensibilidade e modos de tratamento de imagens culturalmente específicas.

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Artigo: #quemmandoumatarmarielle: a mobilização online um ano após o assassinato de Marielle Franco

Acaba de ser publicado na Revista Líbero o artigo #quemmandoumatarmarielle: a mobilização online um ano após o assassinato de Marielle Franco em co-autoria entre Taís Oliveira, Dulcilei Lima e o Professor Dr. Claudio Penteado.

O artigo apresenta o resultado do mapeamento de conversas e grupos no marco de um ano do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, ocorrido em 14 de março de 2018. A metodologia utilizada foi a Análise de Redes Sociais na Internet a partir de publicações no Twitter com as hashtags #QuemMatouMarielle, #QuemMandouMatarMarielle, #MariellePresente, #MarielleFrancoVive e #MarielleVive.

Buscamos compreender quais as pautas levantadas pelos usuários e que grupos são identificados a partir da clusterização da rede. Quando Marielle foi morta, essas hashtags reuniram discussões, manifestações de condolência, cobrança por justiça e o assunto chegou a ocupar a primeira posição no Trending Topics Mundial do Twitter no dia 15 de março de 2018. Dias antes do marco de um ano da morte da vereadora surgiram nas redes sociais as primeiras mobilizações com a convocação de atos, homenagens, filtros nas fotos de perfil no Facebook, ações que cresceram com a notícia das prisões de dois suspeitos. Observamos nesse contexto a estrutura e os atributos relacionais de tais manifestações.

Obtivemos como principais resultados uma rede extensa, descentralizada, com nós unilaterais e diversos clusters. Embora com nós pouco conectados, as conversas na rede se deram sob as mesmas pautas baseadas em uma única questão: quem mandou matar Marielle?

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Livro reúne pensamento sobre a relação entre tecnologia e questões raciais, por autores brasileiros, africanos e afrodiaspóricos

O livro “Comunidades, Algoritmos e Ativismos: olhares afrodiaspóricos” busca combater uma lacuna na academia brasileira: reflexões sobre a relação entre raça, racismo, negritude e branquitude com as tecnologias digitais como algoritmos, mídias sociais e comunidades online.

Organizado por Tarcízio Silva e publicado pela editora LiteraRUA, a obra reúne 14 capítulos de pesquisadoras e pesquisadores provenientes do Brasil e países da Afrodiáspora e África, como Congo, Etiópia, Gana, Nigéria, Colômbia, Estados Unidos e Reino Unido.

O capítulo de abertura é de Ruha Benjamin, ativista e professora da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Pela primeira vez traduzido ao português, seu trabalho discorre sobre a “imaginação carcerária” imbricada nas tecnologias do Ocidente, da escravidão até o reconhecimento facial de hoje.

Textos estrangeiros inéditos e atualização e redação de publicações selecionadas de brasileiras/os, o livro colabora com a crescente complexificação do pensamento sobre a comunicação digital e internet resultante da diversificação dos olhares e falas nos espaços acadêmicos.

O rapper, compositor e empresário Emicida assina o prefácio, onde pontua que “se a essência das redes sociais é a conectividade, está para nascer uma que cumpra seu papel com mais eficácia do que um tambor”. Com vários pontos de vista, os temas abordados incluem a matemática na divinação Ifá, ativismo político, transição capilar, blackfishing, afroempreendedorismo, Black Twitter, contra-narrativas ao racismo e métodos digitais de pesquisa apropriados à complexidade das plataformas, algoritmos e relações de poder incorporadas nas materialidades digitais racializadas.

A publicação está disponível em versão digital gratuita, graças ao apoio do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados, e em pré-venda da versão impressa no site da editora LiteraRUA.

O que os brasileiros estudam sobre Afroempreendedorismo

Como maneira de compreender o que se tem pesquisado sobre Afroempreendedorismo no Brasil, integrei em minha dissertação uma revisão sistemática (ou estado da arte) e assim tentar entender: quais áreas de pesquisa tratam do tema; de quais regiões do país são os estudos; em quais níveis acadêmicos estão alocadas as pesquisas; quais metodologias são utilizadas; e quais problemas de pesquisas aparecem nos estudos sobre Afroempreendedorismo.

A busca pelos trabalhos foi realizada nos repositórios Google Acadêmico, Scielo e Capes pelas palavras-chave “afroempreendedorismo”, “afro empreendedorismo”, “empreendedorismo negro”, “afro-empreendedorismo”, “afroempreendedor”, “afro empreendedor”, “empreendedor negro”, “afro-empreendedor” em língua portuguesa a respeito dos trabalhos publicados nos últimos 10 anos (2008 – 2018). Além da língua, os critérios de inclusão trabalhos que continham os termos de busca nas palavras-chave ou no resumo. Não foram encontrados trabalhos nos repositórios Scielo e Capes, porém no Google Acadêmico encontramos 20 trabalhos. Na aplicação do segundo nível de inclusão – estar em língua portuguesa e ter propriamente o tema no desenvolvimento do trabalho – restaram 14 trabalhos.    

O ano de 2018 foi o que mais teve publicações sobre o tema: ao todo foram 9. A maioria dos trabalhos são monografias (5), seguido de paper de evento (3), periódicos (2), tese (1), dissertação (1), livro (1) e capítulo de livro (1) e os trabalhos tratam principalmente de economia (5), identidade (4), racismo (4) e epistemologia (1). Sobre metodologias, o memorial descritivo e a etnografia são aos dois métodos mais utilizados, estando em 11 e 7 trabalhos, respectivamente. Já em relação às áreas, antropologia aparece em destaque com 8 trabalhos e administração com 3. Aparecem ainda comunicação, ciências humanas, ciências sociais e sociologia. E por fim, sobre os níveis acadêmicos identificados, temos especialização e mestrado com 3 publicações cada.

Em uma observação qualitativa, vemos algumas características que se sobressaem, como a questão da territorialidade abordada em trabalhos como o de Lima e Benevides (2018) sobre o afroempreendedorismo em Salvador, tendo como ponto de partida os negócios alocados no co-working Ujamaa. As autoras levam em consideração o fato de a cidade ser a maior em quantidade de pessoas negras fora da África, questões históricas e sociais da população negra no Brasil e os benefícios da formação de uma rede de colaboração entre os afroempreendedores.

Já no artigo de França, Dias e Oliveira (2018) os autores buscam expor as dificuldades enfrentadas por empreendedores negros na cidade de Uberaba, Minas Gerais. Sobretudo a partir da concepção do preconceito racial enquanto raiz de uma dificuldade maior para estabelecer e manter os empreendimentos. Os negros empreendedores da região metropolitana do Rio de Janeiro são o foco de pesquisa na dissertação de Santos (2017). O autor busca compreender as influências raciais no empreendedorismo e ressalta a importância de se discutir raça no campo da administração. Como resultados, o pesquisador elenca aspectos da identificação e significado do trabalho por parte dos afroempreendedores.

No trabalho de monografia de Teixeira (2017), o autor analisa os desafios e oportunidades para empreendedores negros no Distrito Federal. Para tanto, o pesquisador aplicou entrevista em profundidade com empreendedores negros acerca da vivência, identidade, discriminação e opiniões a respeito da Feira ‘Coisa de Preto’ e a Lei 5.447/2015, que instituiu o Programa Afroempreendedor do Distrito Federal. Texeira conclui que os empreendedores usam do espaço que alcançaram para afirmar sua identidade racial, com uma representação positiva do negro em seu empreendimento e na geração de empregos e/ou prestação de serviços para outros afrodescendentes.

Outros aspectos aparecem nas pesquisas já publicadas sobre a temática do afroempreendedorismo, como as questões sociais e econômicas abordadas nos trabalhos de Nascimento (2018), que analisa o perfil socioeconômico e cultural para explorar quais as motivações e o sentido atribuído na prática empreendedora da população negra no Brasil, e no artigo de Souza (2015), que discute o papel do BNDES e do SEBRAE no fomento e capacitação do empreendedorismo negro brasileiro. Para tanto, o autor argumenta sobre a impossibilidade de dissociar desenvolvimento econômico da equidade racial. O pesquisador analisa o relatório do SEBRAE “Os donos de negócio no Brasil: análise por raça/cor” e as políticas de investimento do BNDES.

As organizações que tratam de afroempreendedorismo são temas de diversas pesquisas, dentre elas a de Qundondo (2017) pela qual o autor apresenta uma análise do perfil dos afroempreendedores da cidade de Criciúma, em Santa Catarina. Principalmente dos filiados à rede Afroem, identificando ao fim que a maioria dos participantes da rede é do ramo do comércio e que os empreendedores sofrem com recursos financeiros para iniciar ou manter seus empreendimentos. Já na tese de Silva (2016), a autora aborda, a partir do viés antropológico, as imbricações entre política e economia nas relações estabelecidas no evento ‘Feira Preta’. A autora considera em sua análise o contexto social e político do país nos últimos 15 anos, os mecanismos de solidariedade que potencializam a construção de imaginários e espaços, além da ênfase no papel protagonista de mulheres negras na articulação e mobilização estética e política no Brasil contemporâneo.

A Reafro (Rede Brasil Afroempreendedor) é tema de dois trabalhos, o de Silva (2017), em que a autora busca compreender como as atividades empreendedoras da Reafro reforçam a identidade afrodescendente dos seus associados. Além disso, a autora busca: elencar as atividades empreendedoras propostas pela Reafro e Reafro do Rio Grande do Sul; identificar os motivos que levaram os empreendedores a se associarem à Reafro/RS; identificar a presença do tema da identidade afrodescendente no material institucional e no discurso da rede; e compreender a relação dos associados com o tema da identidade afrodescendente.

Já na monografia de Simão (2017), o autor discute o perfil dos Afroempreendedores da Reafro também no Rio Grande do Sul e os impactos do pertencimento à rede para os negócios. O pesquisador identificou, como parte dos resultados, que as mulheres negras são maioria na rede, grande parte são microempreendedoras individuais e prestam serviços. Além disso, o autor constata que o pertencimento à rede Reafro trouxe benefícios para a maioria dos entrevistados em seu trabalho.

Já os trabalhos de Oliveira (2018a; 2018b) fazem uma aproximação da teoria da economia étnica e o afroempreendedorismo a partir da análise de redes sociais com páginas de grupos e associações relacionados ao tema, e a partir da página no Facebook da Feira Cultural Preta.

Por fim, encontramos o livro “O Empresário Negro – Trajetórias de sucesso em busca de afirmação social”, de José Aparecido Monteiro, publicado somente em 2001 e com segunda edição em 2017, mas que reúne história de empreendedores negros do final da década de 80. O livro conta a trajetória da pesquisa realizada pelo autor, que entrevistou pequenos empresários negros em torno de temas relacionados ao empreendedorismo negro como ferramenta de desenvolvimento econômico e humano. O autor ressalta em seu trabalho a necessidade de organizar coletivamente ações para a promoção do grupo enquanto comunidade historicamente discriminada.

Portanto, observamos uma forte demarcação territorial nos trabalhos analisados, além de estudos que têm como ponto de partida a atuação de grupos ou associações, como os trabalhos que analisam a Reafro, Afroem e Feira Preta. Além disso, vemos que grande parte dos trabalhos foi publicada muito recentemente (entre os últimos dois anos), fato que demonstra a crescente observação e importância do tema. Não há, além dos trabalhos originados desta própria pesquisa, outros que se relacionam à teoria da economia étnica, tampouco com viés da tecnologia e internet.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DOS SANTOS LIMA, Anan Karoline; BENEVIDES, Tânia Moura. Economia
Colaborativa e Afroempreendedorismo: Uma Análise Sobre Articulação Desses dois
Conceitos no UJAMAA Coworking. Revista em Gestão, Inovação e
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, v. 4, n. 1.

FRANÇA, Bruno Olympio; DIAS, Sheila Caetano; DE OLIVEIRA, Alex Sandro Souza.
Empreendedorismo: Análise do Afroempreendedor da cidade de Uberaba. REVISTA
FACTHUS DE ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO
, v. 1, n. 3, p. 149, 2018.

MONTEIRO, José Aparecido. A formação e a ação coletiva do
empresariado afro-brasileiro: processos e desafios
. In: NOGUEIRA, João
Carlos (Org.). Desenvolvimento e empreendedorismo afro-brasileiro: Desafios
históricos e perspectivas para o século 21. Florianopolis: Atilende, 2013.

NASCIMENTO, Eliane Quintiliano. Afroempreendedorismo como estratégia de
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OLIVEIRA, Taís. Redes Sociais na Internet e a Economia Étnica:
breve estudo sobre o Afroempreendedorismo no Brasil. 
Anais do
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OLIVEIRA. Redes Sociais na Internet, Narrativas e a Economia Étnica:
breve estudo sobre a Feira Cultural Preta. In: SILVA, Tarcízio;
BUCKSTEGGE, Jaqueline; ROGEDO, Pedro (orgs.). Estudando Cultura e
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. Brasília: Editora IBPAD, 2018.

QUNDONGO, Vladmir António. Perfil empreendedor dos afro-empreendedores de
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SANTOS, Edy Lawson Silva et al. Relações raciais e empreendedorismo:
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SILVA, Gleicy Mailly da. Empreendimentos sociais, negócios
culturais: uma etnografia das relações entre economia e política a partir da
Feira Preta em São Paulo
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SIMÃO, João Carlos Ngila. Afroempreendedorismo: perfil dos afroempreendedores da região do Rio Grande do Sul e quais os impactos de pertencer a uma rede de afroempreendedores: estudo de caso Reafro/RS. 2018.

SOUZA, Henrique Restier da Costa. O papel do BNDES e do SEBRAE no
fomento e na capacitação do Empreendedorismo Negro.
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Congresso de Pesquisadoras(es) Negras(os) do Sudeste, 2015.

TEIXEIRA, Lineker Gomes. Afroempreendedores: desafios e
oportunidades para empreendedores negros no Distrito Federal
.
 Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Administração)—Universidade de Brasília, 2018.

Evento: Afetando Tecnologias, Maquinando Inteligências

Evento ocorre em fevereiro, na USP. A proposta é discutir, a partir de um olhar do Sul Global, perspectivas de(s)coloniais, feministas e indígenas, o impacto das tecnologias nos mais variados campos da sociedade.

No dia 06 (quinta-feira) componho mesa junto com os integrantes da Gerência de Cidadania e Diversidade Cultural – GECIDSabelo Mhlambi e Dalida Maria Benfield (sessão gratuita).

A programação ainda conta com as presenças de Rafael Grohmann (DigiLabour), Katherine Ye, Sil Bahia (PretaLab / Olabi), entre outros. Saiba mais informações no site.