*Encontro ocorreu em novembro de 2019.
Em seu último dia no Brasil, a professora e filosofa americana Patricia Hill Collins participou de um encontro especial e generoso com movimentos e organizações sociais na sede da Ação Educativa, em São Paulo. Em solo brasileiro desde setembro, Collins veio para participar de diversos eventos e lançar seu livro Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política de empoderamento, que embora publicado na década de 90, somente agora ganhou tradução para o português.
O encontro ocorreu na manhã de domingo com o auditório do predinho repleto de mulheres negras, professoras, líderes comunitárias, jovens, estudantes e profissionais das mais diversas áreas que proporcionaram um belíssimo momento de partilha de suas vivências.
Com o tema “Democracia, resistência e esperança” o bate-papo foi dividido em três etapas: representantes de movimentos sociais fizeram uma breve explanação sobre suas causas, contextos e articulações; em seguida, a professora Patricia Hill Collins fez uma fala a partir destes relatos; e por fim, os presentes puderam fazer perguntas abertas para a professora.
Dentre os movimentos sociais que apresentaram suas bandeiras estavam o Movimento Mães de Maio, Movimentos por Moradia, Movimentos Sem Terra, Movimentos LGBTQI+, a Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio, o coletivo Periferia Preta e o coletivo Ecos e Reflexos América Latina.
Todos, em certa medida, falaram das diversas violências e desumanizações que atravessam a população negra no país. Desde a violência estatal trazidos de forma potente nas falas das Mães de Maio e da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio, do direito à terra, alimentação saudável e moradia digna a partir dos contextos de luta do Movimento de Moradia e Movimento Sem Terra, da dupla desumanização (transfobia e racismo) que pessoas negras transgêneros vivenciam cotidianamente e a articulação da juventude periférica a partir da fala dos coletivos.
Na sequência, a professora iniciou sua fala questionando “Por que ainda estamos aqui? Como conseguimos sobreviver?” trazendo para reflexão as diversas formas de nos mantermos em resistência, particularmente em sociedades violentas como no contexto brasileiro.
Sobre o conceito de interseccionalidade, muito disseminado em seu pensamento em relação a compreensão das problemáticas sociais, Collins afirma que “a interseccionalidade é uma trajetória intelectual pela busca da humanidade plena de todos os cidadãos” e que devemos ter em mente e na prática política que a mulher negra está no centro de todas as formas de resistência.
Por fim, trazendo à tona os relatos anteriores e sobre sua passagem pelo país, Collins afirma que recebeu muitos presentes no Brasil, mas o mais importante deles foi a oportunidade ouvir as ideias e histórias centradas nas experiências de mulheres negras e nas histórias das pessoas que elas [as mulheres negras] amam.
Aproveito aqui para deixar um agradecimento à Associação Cidade Escola Aprendiz, em especial Paula Patrone, Roberta Tasselli e Vivian Ragazzi, pela oportunidade de participar deste encontro histórico representando o Aprendiz.