A palestra de Pierre Lévy aconteceu na última segunda-feira, 17, no Senac Santo Amaro. Em duas sessões o filosofo francês falou sobre ciberdemocracia e sobre as aplicações da inteligência coletiva na educação.
A plateia era composta por um misto de profissionais e estudantes, provavelmente alguns não eram da comunicação e talvez com pouco contato com a teoria de Lévy sobre a Inteligência Coletiva. Por isso, antes de aprofundar o debate, o professor explicou seu projeto de pesquisa, afirmando que nós já temos uma inteligência coletiva natural e que o nosso sistema de linguagem complexo proporciona o enriquecimento contínuo dessa inteligência, disse também que a função básica da tecnologia é dominar os símbolos e ampliar a capacidade cognitiva.
Um ponto bastante interessante citado na palestra, principalmente para nós profissionais de humanas, é o quão importante serão os dados obtidos através de informações disponíveis na internet para uma revolução das ciências humanas, ou seja, aperfeiçoaremos nossos relacionamentos humanos através das informações obtidas com as novas tecnologias, internet e técnicas de big data.
Depois de explicar o conceito de sua pesquisa, o autor provocou “O que nós podemos fazer com tudo isso na educação?”. E, então, ele disse algo que concordo plenamente: “mesmo que os estudantes não sejam perfeitos em suas colocações, ao menos eles serão capazes de contribuir”, referindo-se às comunidades, fóruns, blogs e outros espaços do conhecimento, para ele é importante haver trocas independente do “grau” de cada membro.
Estudei alguns textos de Lévy na faculdade, mas é incrível como toda sua teoria foi melhor absorvida durante o evento. A minha concepção de Inteligência Coletiva era – eu tenho um saber, você tem um saber, juntamos os nossos saberes em prol de algo ou alguém, processo mediado através da interface virtual. Porém, a ideia do autor vai além, ele acentua a questão da memória expandida possibilitada pela capacidade de armazenamento na internet, mapas de estudos e a facilitação de processos para pesquisadores.
Lévy listou alguns dos pecados que devem ser evitados na rede de compartilhamento, são eles: a ignorância, a redundância e a irrelevância. Ou seja, se não tem conhecimento sobre determinado assunto, estude antes de compartilhar, verifique se o assunto já está disponível, se sim, apresente um viés diferente do que já foi debatido e, por fim, seja relevante à sua comunidade de interesse. Ainda sobre comunidades do conhecimento e o de compartilhar, Lévy afirma que é necessário ter ética na ações online, verificar as fontes das informações e ser o mais transparente possível.
Enfim, foi um dia enriquecedor e inspirador. A Inteligência Coletiva é um tema que merece aprofundamento maior, para o desenvolvimento de, muito além de práticas mercadológicas, práticas sociais e educacionais, como o próprio afirmou: “A principal diferença entre o meu projeto de pesquisa (Inteligência Coletiva) e a Inteligência Artificial, por exemplo, é que eu quero que as pessoas sejam mais inteligentes, não as máquinas“.
Sobre o palestrante, Pierre Lévy é filosofo francês e pesquisador principalmente no campo da cibernética, seu pensamento faz uma ligação estreita entre a internet e sociedade a partir de uma visão antropológica. Formado em História das Ciências, Sociologia e Filosofia atualmente leciona na Universidade de Ottawa no Canadá. Possui mais de dez obras em português que abordam temas pertinentes à sua pesquisa.
* Artigo publicado no Versátil RP em março de 2014
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