41º Intercom Nacional: Desigualdades, gêneros e comunicação

Aconteceu entre os dias 2 a 8 de setembro na Univille, em Joinville/SC, o 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – o Intercom – que teve como tema ‘Desigualdades, gêneros e comunicação’.

O evento contou com cerca de 2.500 participantes, abertura oficial com Áurea Carolina,  mesa com Rosane Borges, diversas homenagens ao Professor José Marques de Melo – que, infelizmente, faleceu neste ano – mini-cursos, premiações,  entre outras atividades. No próximo ano o congresso será recebido em Belém do Pará com o tema ‘Fluxos Comunicacionais e a Crise da Democracia’.

Apresentei no Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura Digital artigo sobre ‘Redes Sociais na Internet e a Economia Étnica: breve estudo sobre o Afroempreendedorismo no Brasil’, trata-se de uma aplicação prévia da minha dissertação em andamento. O artigo completo está disponível no link e a apresentação abaixo.

 

 

Cinco vídeos para entender o Afroempreendedorismo no Brasil

Já comentei por aqui sobre minha pesquisa de mestrado que trata de afroempreendedorismo na perspectiva da teoria da economia étnica.

Talvez o tema ainda seja distante para alguns, mas não por isso. Para ilustrar, nesta semana foi ao ar o Programa Mundo S.A. sobre afroempreendedorismo e contou com a participação de Adriana Barbosa da Feira Cultural Preta, Luana Teófilo do Painel Bap, Carlos Humberto da Diáspora Black, Bruno e Brigida do Clube da Preta e Nina Silva do Movimento Black Money.

Oportunidade excelente para compreender um pouco mais o ecossistema desse movimento. Deixo também mais quatro vídeos que trazem debates interessantes sobre o tema.

 

 

 

 

 

Black Money, afroempreendedorismo e economia étnica

Na minha dissertação estudo afroempreendedorismo [nas mídias sociais] a partir da perspectiva de economia étnica (o sociólogo Ivan Light da Universidade da California é a referência aqui). Logo, em algum momento vou ter que contextualizar o “Black Money”, mas eu ainda não cheguei num nível de aprofundamento pra contribuir de forma efetiva nesse debate.

Mas de economia étnica posso dar uns pitacos. Economia étnica é o esforço coletivo de fazer circular não só o dinheiro, mas empregabilidade e oportunidades de crescimento profissional num determinado grupo étnico, em geral grupos que imigraram.

Dando um breve search no Google Acadêmico por “economia étnica” é possivel encontrar diversos artigos (a UFSCAR tem um trabalho enfático no tema), mas com foco em armênios, italianos, espanhóis, japoneses, chineses, se pah dá pra encontrar até de marcianos, jupiterianos, etc.

Mas a perspectiva dessa análise com foco em negros é inexistente. Primeiro, do meu ponto de vista, pq quando nos estudam só focam nas nossas dores, no racismo, na violência, na pobreza, etc. Segundo, pq nós não migramos, nós fomos sequestrados e escravizados pra gerar riqueza para outros grupos étnicos. Desse ponto de vista pode haver um conflito com a teoria (e a gente tá aqui é pra conflitar mesmo), mas nos demais aspectos, sobretudo no sentido de comunidade, a economia étnica faz bastante sentido no contexto que venho observando nas atuais movimentações de afroempreendedorismo.

Eu concordo que é um pouco inviável querer aplicar o “Black Money” dos EUA aqui. Os contextos são diferentes, o nosso próprio entendimento de negritude não é maduro, nós temos problemas sociais básicos sem uma perspectiva de resolução, nós temos um extermínio da população negra em curso, nós estamos vivenciando um retrocesso de todas as políticas públicas de afirmação (dentre as quais tive a oportunidade de estar na academia). E sim, pode existir divergências conceituais do termo. E sim, entendo que a grande crítica ao “Black Money” é o fato dele estar atrelado à estrutura bancária, mas qual outra solução viável existe pra esse ponto?

Mas uma coisa não inviabiliza a outra e é por isso, imagino eu, que as pessoas se engajam em causas diversas. Que no fim das contas todas são para melhorias de um determinado grupo social.

Também concordo que a estrutura da sociedade só muda a partir de políticas públicas de longo prazo e aí a gente agradece os que estão à longa data lutando por isso. Mas no curto prazo e individualmente é dinheiro sim que muda a vida das pessoas. É esse o sistema que a gente vive, infelizmente. E as coisas não vão se alterar do dia pra noite como num passe de mágica.

Eu posso muito bem me engajar em questões relacionadas às políticas públicas, mas também posso querer que os pretos ganhem dinheiro trabalhando arduamente (e a gente sabe que empreendedor trabalha muito mais que 8 hrs por dia) e promovam atividades que nos fortaleçam.

Os armênios, italianos, espanhóis, japoneses, chineses, marcianos e jupiterianos fizeram e fazem isso e ainda são temas nas universidades. Pq a gente não pode também?

PS: textão publicado primeiro no Facebook, relevem o internetês.


UPDATE [7/11/18]

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Profissionais e empreendedores negros, redes sociais e economia étnica

Como comentei em outras ocasiões, estou cursando mestrado em Ciências Humanas e Sociais na UFABC e passado o período de reescrita da proposta venho compartilhar meu objeto de estudo.

Logo depois do processo seletivo pensei em alterar alguns pontos pois percebi que teria obstáculos teóricos no andamento da pesquisa. A primeira proposta era: Análise do discurso na internet: um estudo sobre o afroempreendedorismo. Porém grande parte do referencial de empreendedorismo está no campo da administração, mas minha pesquisa será pelo viés das ciências sociais e eu não queria me distanciar disso. O projeto era ainda mais fragmentado pela questão do ‘afroempreendedorismo’, se empreendedorismo já não teria muita referência, imagina com esse recorte. É um ótimo desafio para doutorado, mas um passo de cada vez, rsss. Outro ponto é que se eu não falasse de profissionais negros talvez análises interessantes ficariam de fora.

Então, aguardei a atribuição de orientação, conversei com minha orientadora e estando ambas em conformidade ganhei uns dias para elaborar a nova proposta, que ficou da seguinte forma: Redes sociais na internet como promotora da economia étnica: um estudo sobre os profissionais e empreendedores negros. 

‘Redes sociais na internet’ me mantém em território conhecido, pois é a área que atuo no mercado da comunicação e que tenho certa bagagem de estudos. Retirei a análise do discurso que seria baseado em Foucault, embora eu vá usá-lo no referencial teórico não é mais um dos temas centrais. E substituí ’empreendedorismo’ e ‘afroempreendedorismo’ por economia étnica que é um tema já discutido em sociologia econômica e que, vale dizer, estou adorando me aprofundar.

A metologia aplicada será a etnografia para a internet (HINE, 2015) em grupos de temas específicos dentro do Facebook e falar de empreendedores e também de profissionais abre o leque para conteúdos mais diversos. Por motivação pessoal eu já estou em alguns desses grupos há um tempo, aliás foi daí que surgiu a vontade de pesquisar as relações estabelecidas nesses ambientes e por já observá-los vi que alguns tem mais interação que outros, entre esses tem os que não são somente de empreendedores negros, são específicos de profissionais negros e outros ainda me dão a oportunidade de falar do recorte de gênero dentro do recorte de raça. Até então, são mais de 20 grupos diferentes dos quais serão selecionados (ainda não sei sob quais critérios) uns cinco que contenham empreendedores negros, profissionais negros e o recorte de mulheres negras.

Certo, mas e aí o que eu pretendo com isso? Descobrir como os profissionais e empreendedores negros utilizam as redes sociais na internet para promover a economia étnica. Entende-se por economia étnica as movimentações estratégicas de defesa e ajuda mútua de migrantes e de minorias étnicas, sobretudo para propor alternativas às possíveis exclusões e desvantagens no mercado de trabalho formal. Segundo Ivan Light, há duas formas de se caracterizar a economia étnica: estando num posto de decisão (podendo agir por influência para a contratação de co-étnicos) e sendo proprietário de um negócio (decidindo deliberadamente pela contratação de co-étnicos) (LIGHT, 2005). Mas para além do aspecto da contratação também pretendo verificar se existe a oferta de vantagens em relação aos produtos e serviços para membros dessas comunidades étnicas e como ocorre essa abordagem.

Há diversos estudos anteriores baseados na teoria da economia étnica como o de Truzzi e Netto sobre italianos, portugueses e espanhóis, de Grun sobre armênios e de Noronha que aborda empregabilidade étnica de forma mais ampla, porém minha pesquisa tem como premissa pensar a população negra como um grupo que também se articula economicamente, principalmente para tentar burlar os mecanismos racistas da sociedade, e que entendeu o papel fundamental da internet para a criação de “quilombos digitais”. Embora, e isso é uma preocupação no referencial teórico, a população negra no Brasil não pode ser considerada como migrante, pois a nós a escravidão foi imposta violentamente. Optei por falar de diáspora (HALL, 2003) e ainda usar referências de Kabengele Munanga, Joel Rufino dos Santos, Dennis de Oliveira, Mário Theodoro, Pedro Jaime, Clóvis Moura, Ramatis Jacino, Sueli Carneiro, Lélia Gonzales entre outros pesquisadores para a abordagem sócio antropológica da população negra.

Minha formação primeira é em comunicação, então estou numa grande imersão em temas da sociologia econômica e tem sido algo muito surpreendente. No mais positivo dos sentidos. Fazer essa troca de conceitos foi a decisão mais certa até então. E já de antemão agradeço aos docentes Regimeire Maciel, Ramatis Jacino, Paris Yeros e Maximiliano Barbosa pela atenção e sugestões de bibliografia em economia, trabalho e relações étnico-raciais, etc. Enfim, essa é a proposta inicial que pode mudar (e provavelmente mudará) conforme as coisas forem acontecendo, mas espero finalizar da melhor forma. 🙂

Referências bibliográficas

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